Ricardo Valez

quarta-feira, 28 de junho de 2000

Consciência

Pelo que me é dado a saber a meu próprio ver
Pelas coisas que toco e sinto, olho e vejo
Pelas coisas em que me aproximo e ouço, inspiro e cheiro
Por todas as coisas que me são passadas em meu viver

Destas, reconheço o seu valor e o seu preço
E destas coisas e de tudo o que conheço
Tenho lembrança de que nunca as esqueço
E se algo não sei ou não me lembro, sei e admito e reconheço

Porque mesmo sem olhar, vejo o que me cega de tudo
Sem sequer me aproximar, bem de longe, ouço o que me deixa surdo
De respiração tapada, cheiro a pimenta e o esgoto sem qualquer essência
Sem em nada tocar, sinto que é em mim toda a consciência

Tudo em mim eu sei e lembro e nada me escapa por de lado
Vejo-me e reconheço-me com grande magnitude
Porque sei quando estou certo ou errado, e tudo isto sempre me é lembrado
E são estas as coisas que constituem a minha virtude

Tudo em mim, eu sei e lembro e nada me passa por de lado
Vejo-me e reconheço-me, e não me quero e nego-me com desilusão
Porque sei quando estou certo ou errado, e tudo isto sempre me é lembrado
E são estas as coisas que constituem a minha maldição

Porque tudo isto é bom quando prevalece o espírito
E este se sobrepõe à carne e não cai nem por aquilo e nem por isto
E sobre estes não lhes cai a tentação, da qual este apenas tem distantes memórias
E fazem da sua ignorância e do seu orgulho, as suas vitórias

Mas é um problema e é mau, quando a carne, uma e outra vez, é tentada
E de tantas vezes, lamenta-se porque está cansada
E aí, nem o forte espírito lhe vale, quando se deixa ser levada
E peca, e mesmo sabendo que peca, consciente ou inconsciente, deixa-se ser enganada

Mas pobre e pouco sábia: só depois se sente envergonhada
Vira-se para si mesma, olha e vê, toca e sente
Enquanto se aproxima e inspira, ouve e cheira, mas está tudo na sua mente
Enche-se da sua vergonha e perdição e só então se sente culpada

Porque de tudo tem ciência e de tudo tem consciência
E quando enfraquece, a carne vê-lhe ser passada toda a sua concupiscência
E traz-lhe dor ao seu viver e ao seu saber e ao seu sim e ao seu não
Porquanto toda aquela virtude é-lhe também toda esta maldição.