Ricardo Valez

sábado, 25 de agosto de 2001

A Trovoada da Manhã

À luz do relâmpago lembra a poesia que te mostrei
Ao som do trovão lembra só a canção que te cantei
Assim, esquece, e lembra só o bom de lembrar
Lembro-te que maior que o relâmpago e o trovão
Para mim, só a lembrança do teu olhar.

sábado, 11 de agosto de 2001

E Se À Nossa Face

“E se, à nossa face, caísse o céu sobre o mar
E irrompesse a trovoada sob o seu cantar
O caos subiria e o tormento sobre nós
O relâmpago seu horror e o trovão a sua voz

Mas pegar-te pela mão e deixar o tempo andar
A luz só o teu olho e a melodia o teu cantar
Porque cego sou, para além do que sou capaz:
Dançando ao teu calor, vir e ver a tua paz”
(David Páscoa)

“Porque poderia até o mundo ter caído
Mas segurar-te-ia a ti pela minha vontade…”
“…Porque no que se sente e há a ser sentido
Só há chama de sentimento sem noção da realidade”
(David Páscoa; Ricardo Valez)

sábado, 28 de julho de 2001

Amor Vida

Sou eu! Sou mar eterno
Sou Outono sem Inverno
Sou viagem sem razão
Sou primavera sem Verão

Sou, pelo meu vasto conhecimento
Pois vejo o abismo mas não sei o seu tormento
Sou, porque sei o que louvo e o que lamento
Porque vivo à brisa, mas não sei para onde sopra o vento

E para onde sopra o vento?
E quem, ou o quê, é esse vento?
Caminho, destino, futuro vaticínio,
Ou desejo, paixão, esperança pelo seu domínio?

Talvez simples sentimento, leme do coração,
Estradas do que sou mas sem saber o que são?
E o que são? São pedras, são passos
São problemas, buracos, mas amarras dos meus laços

Mas trás nada há, há vazio e escuridão
À frente: tudo o que há para haver pela nossa mão
Há mágoa, há dor, medo e temor
Mas há vida e cor, se há isto há amor

E o que é o amor?
Sou leigo, sei só o seu valor
É pé de cada passo, é boca de cada voz
É força que nos faz mover
Quem não o sente não sabe viver.

domingo, 13 de maio de 2001

A Decisão

Por momentos, quais breves, meu coraçao disparou
Por momentos pensei, parou, deixei, acabou
Mas lembrei agora que nao é isto o que eu sou
Sou mais do que pensas, sou mais do pouco que te dou

Por isto, nao faço qualquer, menor, minha intenção
Vi-te, senti-te, e de mim mesmo estendo minha mão
E torno-me eu antitético à tua quente e fervida vontade
E ignoro-a, liberto-me, deixo-me descer pela minha sanidade

E negar-te-ei teu pedido de inreflexão
Porque sei que tudo seria uma mais em vão
E voltaria eu àquilo que sou, voltaria ao que aqui
Porque, da minha decisão: não te vou deixar
Mesmo não te tendo, não esqueço aquilo que prometi.

quinta-feira, 15 de março de 2001

Um Sonho Que Pelo Teu Sonhar (o original de uma carta)

Bom dia

Sonhei e sei que bem sonhei
Pois assim foi que acordei
Mas lamento porque esqueci e não lembrei
E espero alegria no sonho que ainda não sei

Porque sei que o meu, talvez nem possa lembrar
Mas anseio e vivo à espera, até quando não mo vais contar
Desejo saber, conhecer, o sonho teu que me faz esperar.

Consideração

Dizes, falas e cantas do fôlego do teu pulmão
Mas ignoro, desconheço, e pergunto: mas qual desilusão?

Pois o vento que da tua voz, constante sopra que o que faço, faço mal
E diz e contradiz tudo quanto te tenho dito, mas não como tal
Mas para quê, se sabes bem que o que dizes nem é o que pensas,
E se do que pensas, sei que pensas bem, porque o lamentas?

E qual então a razão do vento que me sopras ao ouvido
Se não desculpa do mal de quem sabes ser, mas não do que tenho sido
Pois em ti, o medo que te cobre pela dúvida que tens do meu ser
E fazes vã a voz que te grita sem nunca, nuca perecer?

Mas quebra a corrente, deixa-me voar àquilo que sou e só quem sou
Não o que a tua antítese quer de mim nem o que nunca deixou
Porque por forte sentimento que ignoro, assim como a sua razão
Por vezes sei mais que tu, sobre o que não é meu mas do que tens em mão

E se me foge compreensão do todo que e és e me tens chegado
É porque me queimas em ferro incandescente, a cada vez que chego perto
Das entras da emoção, mas também do que sabes ser errado
E transformas luminoso jardim, em profundo escuro deserto
Sem mesmo que, pelo respeito à consideração, já mais to fosse dizer
Mas sei que não o digo, não o faço porque não o quero fazer

E de todo o desejar pelo que te quero, quero só o melhor do teu bem
Quero só que me vejas através do que mostra a carne, que me compreendas também
Pois à medida que vem e vai, e volta naquilo que acontece
Há uma só coisa, que pouco, ainda que muito, o quão me entristece:
Que na enfermidade dos teus medos, sejam tais tantos assim
E a cada dia, sem razão, te afastes cada vez mais de mim.

sábado, 13 de janeiro de 2001

Parte da Nova Primavera II

Abertos atentos, assim os ouvidos que de mim
E assim também, como um renascer, aquela minha compaixão
Porque de boca vazia, falaste-me de palavra cheia
E da noite fez-se dia
E apesar de fechada a tua razão, vi, aberto foi teu coração

E houve fogo então, e do cobre derretido, compadeceu a minha alma
E ardeu-se-lhe desejar apaziguar a trovoada à sua calma
Onde sentimento crescente se fazia à presença da memória
Pela melodia que da tua voz, pois da alma à tua historia

Porque do mal havia já passado, ao presente fez-se o seu bem
E na beleza que me é incontestada, do melhor que a vida tem,
Pergunto a quem não o sabe: não será o bem que do mal advém?
Porque olho a luz que me cega pelo brilha pela beleza do teu olhar
E sei e vejo e sinto a pureza apesar do forte teu pesar

Porque na ausência da sanidade, abri-te, também eu, a alma que de mim
E vibraram os sinos e fez-se então entoar uma nova canção
Porque da tua palavra falaste-me em ternura na tua amizade
E em verdade, e de lágrima escorrida pelo coração
Pois assim foi que escolhi segurar-te em toda a minha mão

Porque apesar de fechada e incolor ser a flor
E pequeno o sentimento que brota e canta do coração
Sei que me és Primavera, mas sem querer o teu Verão

Porquanto, do refrigério da minha alma, sei, é esta a minha vontade
Porque no que se sente e há a ser sentido
Não há sentimento sem chama de realidade
E servir-te-ei de escudo e escudar-te-ei aquando precisares
E forte fortaleza a ti, me fortificarei aquando do coração o desejares.

terça-feira, 2 de janeiro de 2001

A Escolha à Última Folha de Outono II

Escolher-se-á à preferência das suas escolhas
A artificial à aquela que a sua original
Aquando à ignorância das suas próprias origens
Porquanto da sua ignorância faz-se a sua futilidade

Mas fiz diferença entre prisão e oportunidade
E dei opção na diversidade da sua escolha
Na qual numa a sua, e noutra nenhuma à folha
Pois só a que caiu, caiu pela sua verdade

E na sua diversão, a sua escolha diversificou
E a folha de Outubro à sua originalidade
Mas em dúvida esperou e à escolha ponderou
Porque bela a ficção do mal à futilidade

Mas certa e forte a sua escolha
Na originalidade da sua folha
E na escuridão que do seu coração
O premio, medalha ou recompensa
Lhe entreguei em sua frágil mão

E uma e a outra também
E eu sem nada fiquei, se na ao ti
Mas fi-lo de alma à sua crença

Porque não há ficção sem realidade
Ainda que na realidade viva toda a sua canção
Onde à beleza, a sua, sem qualquer razão
Porque na realidade há dor, mas também o bem da ficção

Porque há muito mais que salte à vista da matéria
Porquanto toda a matéria à sua carne deteriorar-se-á
Mas só o espírito em magnificência permanecerá

Desta maneira escrevi-te e li-te e assim foi que te fiz
Tal é o que dizes, da folha ao poema, assim a tua raiz.