Ricardo Valez

segunda-feira, 28 de agosto de 2000

Quem Sou Eu?

Quem sou eu, que se não mais um no meio da miséria do mundo
Que para além da fisiologia, que por vezes, agradável aos olhos do homem?
Quem sou eu, se não aquele que se proclama sábio e se cala perante a injustiça
Evitando que o fogo da contenda se alastre e suba até aos confins do além,
E que ri e parece imune à maldade que o rodeia como o sobreiro pela cortiça?

Que sou eu, se não mais um no meio da miséria deste mundo
Que para além do que se pode ver, tem um coração sujo, corrupto, pobre vagabundo?
Quem sou eu, Que me acho melhor mas infiel ao que escrevo, digo e canto,
Que se cala por fora e por dentro a alma range ódio e hipocrisia perante o pranto?

Quem sou eu, que com olhos sujos, olho para o meu próprio irmão?
Quem sou eu, a quem foi dado a vida em socorro à sua morte
E que para ajudar, é-me difícil estender esta simples e medíocre mão?
Hipócrita e egoísta, olho com olhos penosos diante o mendigo, sem sul ou norte

Mas sou, eu, pobre mendigo sem conhecimento do verdadeiro amor ou compaixão
Sou fogo em água, besta em amor, e ainda assim luz na escuridão
Porque mesmo não sendo aquilo que quero – porque não quero aquilo que sou
E sendo infiel ao que te prometi, desejo-me teu em tudo aquilo que tenho ou dou

E fazes-me brilhar na minha escuridão, amor no meu ódio, perdoar no meu furor
Porque sou teu, sem saber quem sou, sem querer saber quilo que sou, sou teu em fervor
Porque aquilo que quero não tem valor, sou teu, dou-te a minha alma, já nada é meu
Para ti, sou cordeiro sou rei, sou vento e sou ar, sou o que quiseres, sou teu, somente teu.

quinta-feira, 24 de agosto de 2000

Quem É Ela?

Por mais colorida e florida que seja a Primavera mais bela
Já mais a Primavera será tão suave e doce quanto ela
E quem é ela? É amor no meu coração, pintada em branca tela
Rainha no meu coração, tal o tem como dela

E inspiro a tua alma, és tu, tua memorável fragrância
E fazes-me brotar vida na minha morte, tal a tua elegância
Porque és suave nuvem, sombra de amor, minha ganância
Céu no meu mundo, atmosfera por toda a sua distância

Porque nem a vida primaveril é tão rica, como rica tu és
Porque de cada vez que te vejo, cego caio a teus pés
Porque não consigo deixar-te de lado, quero ter-te e ver-te através
Porque és tudo, és excelência, eu nada sou, nada mais que vile e rés

És água no meu deserto e fogo na escuridão
Palavra de socorro na minha aflição
És sentimento de certeza na minha ilusão
És sorriso na tristeza de um amor rasgado e vão.

sábado, 12 de agosto de 2000

O Quanto Foi

Ao acordares, cantar-te-á o pássaro primaveril
Defronte cortinas de seda, flutuantes ao vento suave e gentil
E de luto à falecida chuva, gotejar-te-ão, em harmonia, cada gota irmã
E cedo antes do fogo de Este, já tu brilharás e iluminarás toda a manhã

Porque és mais que a noite, mais que o nascer de um dia
Maior que o amor e a dor, maior que a tristeza e a alegria
Porque menor é a água e o fogo, és pura em ardente delito
És meu passado, presente e futuro, és meu eterno infinito

Porém, o ontem é só dorida memória de um singular amor
Do qual, hoje, me inspiro para a ti me expressar em clamor
Para que amanhã me lembre deste dia na tua presença ausente
Fria e cruel memória de um ontem ainda tão presente

Porque é amargo, escuro ciclo vicioso
Soldado treinado, maligno e nunca ocioso
Porque maior é a minha fé e o meu cantar em ti
Mas és tudo em mim, és vida morta de nada de quanto vi.