Ricardo Valez

sexta-feira, 28 de março de 2003

Amarga Divina Dor

Para ti quero escrever, dizer e falar
Tantas fossem as palavras quantas pudesse cantar
Fazer o mundo florescer e o coração desabrochar
Fazer a gravidade cair e ao tempo enganar

E sinto cansado o coração e cada vez mais
Cem razões, sem saber quantas nem quais
Sinto o peso que esmaga cada desejo meu
Inexpressiva a voz de quem morre e não morreu

A saudade, nasce e irrompe durante a própria acção
A prosa, sinto-a pelo elo perdido e a sua canção
O brilho do meu olhar é vaticínio insípido e incolor
A previsão pelo teu é amarga divina dor

Por isto a falta do que vivo mas também do que não fiz
Porque outrora, visões da tua face e olhares de cem rubis
Reflexo agora, futuro de então desde cada a cada passo
Porque a luz é distante tanto quanto o brilho é baço

Agora repete-se a mágoa do fantasma do passado
Agora, consumida pelo dom mútuo que nos foi dado
Porque assim o somos e fomos, pois por natureza
Porque nos completámos, pela felicidade, na devassa tristeza.