Ricardo Valez

sábado, 25 de novembro de 2006

Pelo que ser? - Porquê?

Pois não sei de facto se o que sou é somente reflexo do nada de mim mesmo, mas se é reflexo de mim ou do meu ser, como “nada” poderia ser? Como poderia ser se eu fosse como um corpo que não possui espectro da essência de ser ou haver em algo que não eu somente? Como? pois se nada fosse, como poderia reflexo algum ser? Pois se assim não o é! Ou será o reflexo a própria imagem do que é? porque sem corpo, não é luz nem imagem, é reflexo somente. Nada mais que ilusão do que queremos e aparentamos ser, mas não é isto reflexo, é reflexão.
Exprimamos o sentimento que não nos deixa morrer, seja ele qual for, façamo-lo diante do espelho que somos nós e será o reflexo como somos mas jamais como o que sentimos. Mas se vivemos por sentir, e seja qual for o sentimento que nos faz viver não será de facto então o reflectir da introspecção o reflexo de algo que nada pode ser senão por si mesmo e jamais por reflexão? Porque o reflexo exprime sem sentir, tal pois como a crítica e a interpretação, reproduz sem jamais produzir, é superfície sem qualquer profundidade, não é senão somente aquele que ele não é nem pode ser senão por reflexão. É ideia, é pensamento, é falso, constante e imparcial mas toma sempre este partido. Pois por mais que nos exprimamos diante do espelho que somos nós, por reflectir tudo o que nos envolve, jamais o nosso reflectir será mais que a imagem que se cria por falsidade ou esperança do nosso pensamento, jamais será este a realidade do que realmente é por verdade e unicidade. É, portanto, o que temos dentro que se deve fazer projectar e não reflectir o que é de fora. Deixemos de ver para poder sonhar, porque o sonho projecta o que temos dentro e a visão reflecte o que é de fora.
Mas, quem, qual de vós é ou acha poder ser superior ao todo saber para julgar ou definir aquilo que é ou não é, ou aquilo que não é nem se faz para ser, ou aquilo que é mas de facto não o é? porque o reflexo ou reflexão que me pertencem são somente para mim, mas estes aquando teus, os mesmos, deixam de me ser, mantendo-se, contudo, sempre o reflexo e reflexão do mesmo objecto, seja qual for a questão: este, aquele; tarde, depois; princípio, sonho; sim ou não... tornando-se por isto díctico do que somos. Qual então pois, qual de vocês é superior a isto, à parcialidade do ser consciente (mas tanto irracional) e à suficiência de si mesmo para que o possa fazer? Quem é mais que o tempo que define a probabilidade consoante o espaço? E quem está em espaço e não em tempo? E quem ocupa dois espaços no mesmo tempo? Mas mais, quem ocupa dois tempos de todo? Quem o é para saber o que era, é e será? E porque pergunta a alma aquilo que não pode saber? Porquê?
O passado é para esquecer. O futuro?! o futuro é mera ilusão. Esqueçamos o passado e ignoremos a possível probabilidade e sorte do futuro, porque o iludir desta sorte não tem lógica nem razão porque não é do olho nem da mente mas somente do coração. Porque o futuro não nos cabe, nem se pode fazer, nem tampouco para nos caber, vivamos simples, mas conscientes de que o futuro existe... mas não agora! porque é também como o reflexo que é sem na verdade ser... e, o passado… o passado foi mas deixou de ser; esquece somente – simples – porque o presente é só para ser, mas o futuro é mera ilusão. Se o souberes faz para o esquecer para que não caias no teu ócio e a que a paixão não possa morrer. E, porque não nos cabe a nós o que é ainda para ser nem a possibilidade ou sorte que venha a haver no que agora é, qual aquele que de vós é mais do que aquilo que não pode ser? Porque o futuro é... ou melhor: porque é, o futuro, aquilo que ainda não foi senão por especulação, e se não foi ainda, pode então nem vir a ser, porque o futuro não é sequela mas consequência. E quem é mais de si mesmo para ser ou saber aquilo que pode nem vir a acontecer? Quem sabe o que é justo ou injusto se o calhau no qual tropeçamos pode bem ser aquele que sustém (as águas na base de) uma barragem? Porque quem for presente (porque todos o somos) mas também futuro é então também o passado porque o passado é do presente mas também o presente o passado do futuro, mas se for passado não pode ser futuro porque o passado é não só do futuro mas também do presente e é o presente que faz o futuro, mas porque também o presente é passado do que será futuro e o futuro será também passado, a seu tempo assim o será como o tudo que é, pois tudo por tempo é. E qual aquele que é passado, presente e futuro e não muda o passado para ser melhor o seu futuro? mas se se mudar pois o passado, também o futuro mudará para além daquilo que a nossa vontade; porque isto, no futuro: a infinita sua probabilidade... pois como pode então o futuro ser futuro se por isto mesmo foi passado do seu próprio presente? Não queiramos mudar a ordem que Deus nos ordenou por lei natural. Se há coisa a alterar ou destino a mudar, a hora certa é agora, no presente que nos envolve e no tempo que nos é, não no tempo que nos foi ou virá então a ser – chega de lamentar o que já foi consumado ou o que ainda não foi provado – esqueçamos o passado e ignoremos o futuro, mas sempre conscientes do presente, este é o fruto do passado e a semente do futuro. Pois o futuro é ilusão, é reflexo e consequência, não sequência e muito menos precedente de si mesmo. Esqueçamos o passado e ignoremos a possibilidade de sorte do futuro, porque o iludir desta sorte não tem lógica nem razão porque não é do olho nem da mente mas somente do coração e daquele que espera pela sorte que lhe valha e a sua ocasião. É tudo isto como reflexo, que é sem na verdade ser, porque é-me imparcial mas no meu entender porque enquanto for por mim ser-vos-á para sempre parcial, parcial a mim, por me pertencer e ao meu próprio parecer, tornando-se pois por isto o díctico que sou eu de tudo o demais.
Quem é mais que o espaço que nos rodeia? Quem é mais que o tempo que nos governa o passar e o ser da eventualidade voluntária e inconsciente? Quem é mais que a infinita casualidade? E quem sou eu para dizer casualidade e não destino? Quem sou eu para perguntar porquê? - Ora pois pergunto porque sou parte deste mundo. Sou parte do espaço e do tempo que somos e fazemos. Pergunto porque o mundo parece viver somente para saber porquê, e por ser quem somos vivemos perguntando porquê. Porquê isto, porquê aquilo, o porquê do quanto mais de quê tem porquê. O porquê do tempo, do espaço e do destino… da casualidade, da sua casualidade, da pergunta e do seu eterno infinito. Mas porquê viver, e deixar de viver, para perguntar? Mas porquê? Porquê viver isto e não somente viver? Porquê viver em dúvida e questão e não somente viver?
Por que medo fazemos a nossa vida? De certo as nossas vidas tem sido por medo. O medo de não saber porquê. O medo de não saber! Ora assim a ignorância que nos consome por dúvida e questão. Porque de facto perecemos nós por ignorância e falta de conhecimento! mas porque perecemos por ignorância e falta de conhecimento afinal?! Quem faz afinal a regra senão por conceito que a defina?! Porque na verdade afirmo achar saber que a ignorância e a dúvida são só por mentira; o conhecimento e a certeza são fé e verdade! O homem que perece, não perece por ignorância do conhecimento e a ciência da possibilidade, mas sim por morte que o consome por falta de verdade.
Deixemos de ser por dúvida e sejamos simples como a verdade, sejamos só por verdade e esqueçamos a dúvida, a questão e a mentira. Deixemos agora a dor e deixemos o perguntar. Que vivamos simples sem a mágoa e o seu sabor. Saboreemos a memória, a nostalgia e a lembrança, e o que sabemos lembrar é só o nosso cair e desfalecer. Deixemos a sorte ser, esquecer esta corrupta esperança, porque não há esperança de não morrer se a nossa vida é por tal. Pois se vivemos por morrer, que esperança esperamos nós haver?! Vivamos por viver! Não somente para sobreviver à casualidade que nos sobreveio. Deixemos o demais e vivamos para viver.
Ora pois não sabemos nada do que somos senão aquilo que supomos ser… nem se somos fruto do que não sabemos ser… ai as guerras e o temor de nós mesmo, ai de nós… mas o que somos não se faz para ser eventualidade do que será, nem seremos nós o que poderíamos ser, porque a resposta que não se alcança, depois de busca vã, é o sonhos que à realidade da vida se escolta sem na verdade nunca deixar de ser somente por sonhar. Pois afinal como podemos nós ser a nossa requerida eventualidade? Não podemos ser o que queremos só por querer. Somos, somente e mais simples do que imaginamos ou podemos ser, e nunca seremos mais, mais que o presente que somos e o arbítrio de que nos fazemos pelo passado que fomos e não pelo futuro que seremos em infinita probabilidade de destino, porque tal como o passado, assim pois o futuro são somente esperança da nossa devassa consciência, são ilusão que se prolonga como a matança do Inverno mas também como a vida primaveril. Mas não nos deixemos pois enganar e iludir por falsa aparência que o olho vê mas o coração não sente. A ilusão por que vivemos não é senão a queda que se faz por nos consumir.
Mas porque não deixamos nós o mundo e o ser se por ser, tamanha a sua complexidade? Porque não nos deixamos morrer? Morrer, morrer, morrer… porquê? Porque maior é o prazer em viver?...? Pois então mas porquê, se vivemos por busca vã? Porquê, se a resposta que não se alcança é mero sonho e imaginação, e a pergunta é infinita mas ilógica esperança?!
Morre, morre, morre decrépito pensamento! Morre agora racionalidade, inconcebível lógica e introspecção! Morre se vives por deturpar o que é bom de ser e haver! Morre sim, porque tu deves morrer assim e não o ser. Que viva o ser e morra a questão. Vivamos simples e felizes sem a mágoa de dúvida e o arder da sua combustão. Sejamos só por ser, inconscientes da razão mas a par do que nos é devido. Esqueçamos o passado e ignoremos a possibilidade, infinita probabilidade e a sorte de futuro porque a ilusão desta sorte não tem lógica nem razão porque não é do olho nem da mente mas somente do coração. Esqueçamos o passado e ignoremos o futuro mas sempre conscientes do presente como fruto do passado e semente do futuro. Exprimamos o sentimento que não nos deixa morrer, e seja qual for o sentimento que nos faz viver, façamo-lo diante o espelho que somos nós, mas não será, o reflexo, tal pelo que sentimos. Porque não existe sentir no passado, mas somente no presente. Do passado resta só a memória que não é sentida mas sim lembrada. De todo este nosso presente, é agora a hora de fazer explodir o nosso amor: neste mesmo momento e acontecer.
Por isto não sejamos reflexo de nada, nem de nós mesmo, mas sejamos nós aquilo que somos e façamos para não sermos melhores que ninguém senão que nós mesmos, melhores do aquilo que somos, e ignoremos o que poderemos vir a ser. Deixemos o tempo ser e passar consoante a sua medida mas vivamos de coração aberto e consoante o seu ser, passar e medir, porque a vida que nos pertence não se mede nem se move por reflectir o reflexo do que não somos nem do que não é de nós, mas sejamos nós somente e simples e por aquilo que nos é, porque o Homem não é por lógica ou razão, nem por ciência nem por perguntar a questão que nos deixa ser (ser o que somos) mas sim por mero, porque natural, mas, porque sobre o natural, tal tamanho, assim o somos por maior amor.

terça-feira, 29 de agosto de 2006

Chaga Incurável

Tempo… Por cada mês que passa e tem passado mais e maiores e não melhores são as palavras que escrevi e da mão se desenhou cada letra, cada palavra do coração. São-me as semanas contínuas, como silvas, espinhos que se cravam sem parar e nem parei e nem deixei eu de sofrer, pois por chorar enchi um mar sem pé e por Inverno de mim congelo esse mesmo mar num único temporal ferido e despido de qualquer Primavera ou Verão como que por eterna Queda de estação. Conto cada dia, conto cada minha dor e pela dor não sei quantos contei nem tampouco quantos vivi. Anseio, paranóico, a cada hora, como louco e como louco espero por nada, espero, vã esperança, por um encontro por acaso, mas forço toda e cada sorte e acaso que há, tenho e é em mim. Mesmo sem olhar vejo passarem minuto após minuto pois assim também lágrima após lágrima como relógio que acompanha o tempo sem ter noção do mesmo passar, e o ponteiro que se faz rodar como caem as águas da mágoa da alma como cada tempo que passa por minuto, porquanto dos meus olhos se fez foz viva da minha alma que se derramou incessante como o vento que sopra, o céu que não cai e o sangue que flúi e não pára senão para morrer. Apesar disto tudo, e maior que todos os meses, semanas, dias, horas e minutos foram cada segundo que se recusava a passar atrasando o tempo e prolongando o sentimento e a dor, maior que todo o tempo que me restou, porque cada segundo foi mais que um dia por morte como cada morte de cada parte do meu espírito foi por cada segundo, e cada segundo de mim foi por minuto, hora e mês que o tem vindo a ser.
Tempo… frio e cruel como agulha penetrante, como espelho sem reflexo ou língua sem paladar. Não pára, não espera e não regressa por ninguém. Imutável seja por que sonhar, querer ou desejar. Não se deixa mover seja por que padecer, não se deixa comover nem por saudade, esperança ou solidão. Deixa-se só acontecer inalterável seja por que gritar, clamor ou poder. Com o poder e força de tudo mudar, moldar e alterar, nunca se fez parar nem tem dó de quem se perde e para trás se deixa ficar. Passeia só em frente, de hoje para amanhã. Não lhe há passado, apenas deixa-se ser. Sem nunca se enervar mantém sempre o mesmo ritmo orgulhoso, impassível e indiferente. Sem nunca se entristecer ou alegrar não se perde por vaidade ou paixão nem tampouco por compaixão. Sem ódio ou amor deixa-se só imortal na imparcialidade do seu ser perverso e racional por infinita lógica irrefutável. Controlando o passar de tanto do que o rodeia. E tudo o rodeia, escravos do seu querer, somos nós… Sem réstia seja de que paixão, molda o bem em mal e o mal em bem, o bem em melhor e o mal em pior. Inconsciente da sua própria inércia molda o pior no melhor e o melhor no pior. Sem alma, espírito ou coração, deixa-se somente estar e ser pelo poder do seu passar.
Oh que tempo conto eu? Pois se o tempo não muda, como pode um tempo meu ser-me por sete tempos? Como pode um segundo ser tão doloroso? E como pode ser tão doloroso como a soma de todos os tempos? – Simples pois não pode. Não pode porque é a soma de todo o tempo que se faz em cada segundo que me passa por cada dor e mágoa e saudade… oh a saudade… quem me dera a mim o que perdi porque o que perdi era tudo, era tudo em mim, era cada segundo, minuto ou mês, cada pensar que ia pensando por cada tempo e por cada tempo cada segundo, enquanto pensava ainda por amor e não por mágoa, saudade e dor. Levar-me-ias tu a minha dor? Levar-me-ias tu esta dor assim como me levaste a minha cor? Assim como levaste a alegria que era minha, mas que era minha por ser por ti, antes que eu pudesse sequer imaginar esta elegia… assim como deixaste de ser e nem sei porque poder ou magia…? É que não compreendo como pode alguém fugir a este amor e viver senão como quem já alguma vez viveu, porque morreria eu se não o tivesse, e morro porque não o tenho. Mas deixo-me viver, por esta morte ainda inconsumpta, pelo sangue derramado e a mágoa que deixaste em mim para nada senão para saudade, memória e o ardor que arde como explosão do meu ser mas que implode por dentro no meu coração porque não tem mais por que explodir e nada tem senão a si mesmo para se consumir e consumir-se-á até a uma morte mais o venha buscar para poder renascer em quem não sou mais nem por quem sou.
Tomara eu enfrentar a regra e o poder do tempo, que governa o passar do mundo, e ganhar. Ganhar poder, vontade e controlo sobre este. E por controlo soberano sobre o tempo, regressar minuto, hora e dia até ao dia e dias em que vivia de alma farta e aberta, aberta para ti, e ainda que fosse em mim este poder, não seria eu a mudar o passado que passou pelo tempo que criamos tu e eu. Não mudaria nem tempo nem segundo somente para que não fosse agora este sofrimento em mim porque se por não sofrer e padecer desta mágoa não pudesse conhecer o que senti… pelo que, juntos, sentimos e fizemos sentir no passado, não seria então em mim, nem gota de um mar por vontade de o alterar. Se por isso tiver de sofrer que sofra então a minha alma, sofra sem piedade porque não tenho arrependimento de te amar… nem de nada nem nunca, perante ti! Não tenho arrependimento nem na mais pequena veia minha por onde corre ainda o sangue teu e do teu amor e de todo o teu amar.

terça-feira, 25 de abril de 2006

Amor Vida II

Sou eu! Sou mar eterno
Sou Outono sem Inverno
Sou viagem sem razão
Sou primavera sem Verão

Sou, pelo meu vasto conhecimento
Pois vejo o abismo mas não sei o seu tormento
Sou, porque sei o que louvo e o que lamento
Porque vivo à brisa, mas não sei para onde sopra o vento

E para onde sopra o vento?
E quem, ou o quê, é esse vento?
Caminho, destino, futuro vaticínio,
Ou desejo, paixão, esperança pelo seu domínio?

Quem espera mais e colhe menos?
Quem sobe e nunca desce?
Quem quer e não tem?
Quem explode mas arrefece?

E por que vento sopra a vida
Quando a vida sopra mal?
Será mesmo vento ou brisa,
Ou tempestade em ascensão final?

Talvez seja simples sentimento, leme do coração,
Estradas do que sou mas sem saber o que são?
E o que são? São pedras, são passos
São problemas e más amarras dos meus laços

Mas atrás nada há, há vazio e escuridão
À frente: tudo o que há para haver pela nossa mão
Há mágoa, há dor, medo e há temor
Mas há vida e cor e se há isto há amor

E o que é o amor?
Sou leigo e sei só o seu valor
É pé de cada passo, é boca de cada voz
É sobre o meu saber e todo o meu ignorar
É para além do que posso querer ou sequer imaginar

É para além do mar e do Inverno
Do Verão e da razão
É força que nos faz mover
É sangue que se nos faz correr
Quem não sabe este sentir
Nada sabe do que é viver.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

À Distância da Tua Vontade

Fosse em meu poder e levantar-me-ia eu a abrir a face dos céus e a boca do universo para que pudesses ver as estrelas dançarem para ti e levar-te-ia ao fim dos mares para que ouvisses ainda outras estrelas cantarem somente para ti. Fosse em meu poder e faria da luz a tua cama para que fosse digna de ser luz. Fosse em meu poder e faria de toda a Primavera o teu lar e faria cada flor desabrochar para ti, e cada nota em orquestra fazer soar para ti. Fosse ao menos em meu poder e faria descer a chuva sempre que te assolasse a sede. Faria o sol brilhar se te tocasse o corte do frio. Faria uma lua cheia noite após noite. À melodia de um chilrear como voz que se faz digna de se cantar, fazer-lhe-ia soar a cada explodir da madrugada. Limparia os céus de mão erguida e a outra para ti e com o coração faria desaparecer qualquer tempestade, qualquer vento, chuva ou trovoada. Faria o chão se abrir se este te aborrecesse. Faria montanhas erguerem-se no meio do horizonte se somente por acaso a paisagem fosse vazia ao teu olhar. Fá-lo-ia, fosse ao menos em meu poder e fá-lo-ia!
Mas não é! Nem está em meu poder. Não porque não sou capaz de o fazer mas porque há somente uma só coisa de que não sou, realmente, capaz: ir contra o teu desejar, ser contra o teu querer, matar a tua vontade. Poderia eu ter o poder para moldar a terra, o fogo, a água e o vento, moldar alma e espírito, corpo e mente, moldar o tumulto em paz e a fome em fartura, e ainda que com o mais pequeno pestanejar o pudesse fazer jamais o faria se o fizesse por ti e fosse contra o teu querer. Fosse dentro do meu poder e fora da tua vontade e em toda a massa e cultura da Terra não moldaria eu nem ponto nem ponta de agulha. Porque de tudo isto nada me valeria forçar a ter pois se nada tenho senão pelo teu querer, porque não quero um coração roubado e prefiro ter o peito vazio se o teu não me for oferecido. Porque todas as coisas que estão e são em mim, e apesar de o meu corpo e mente estarem infinitamente separados de ti, todas estas coisas estão somente à distância da tua vontade… estariam! Pois se eu pudesse fá-lo-ia. Fá-lo-ia se o desejasses e fá-lo-ei se for de acordo com a tua vontade!