Ricardo Valez

sábado, 29 de julho de 2000

Refúgio De Amor

Olhem para a frente e para trás
Olhem cada um dos vossos lados
Ah… a memória que isto me traz
Os pinheiros que descem inclinados

Olhem, contemplem o Oeste, a cidade
Contemplem o horizonte na sua eternidade
Contemplem o Oeste, o pôr-do-sol envelhecido
Porque a Este só os pinheiros sob o céu escurecido

Aqui é lugar de descanso
Refúgio de quem sobe a colina em seu alcanço
Às mil verdes agulhas que vos cobrem
E aos ventos que entre elas correm

Aos que deixaram a cidade, a civilização
E se reúnem aqui, à mais bela criação
Pela luz criada para bem
Corrompida, mas esquecida por ninguém

Não! Não se deixem cair em ilusão
Não olhem a floresta, nem o céu e nem o chão
Olhem para vocês, olhem a vossa amizade
Porque a paisagem é de quem a quiser
Mas o amor é de quem o der.

segunda-feira, 17 de julho de 2000

Sentimentos Que Vão e Vêm Em Diferentes Partes De Mim

Encontro-me, olho-me, espero e vejo-me então
Deitado sobre águas, lágrimas derramadas no chão
Paro, procuro e nada encontro em meu coração
Mas nem o tenho, não o vejo, perdi a minha visão

Olho ao meu redor e estranho ver-me noutro lugar
No qual sou e estou e não sei como parar de cantar
Procuro e encontro um coração pronto a amar
Sinto-o também ele a saltar e sei que não vai parar

Olho ao redor e estranho ver-me noutro lugar
No qual se sou ou se estou, grito encolerizado
E procuro e encontro um coração desprezado
Sinto-o parado, morto, frio, como que gelado

Olho à minha volta, de nada já nem quero saber
E para onde quer que olhe já nem nada quero ver
Procuro mas não encontro, de tanto me aborrecer
Tenho agora um coração sem vontade de viver

Sei já que dois ou dois sou, mas não, nem consigo entender
E digo que sou eu, mas se sou eu, não sei se eu o sou
Porque se sou e não estou e nada me vem responder
Muda-se-me quem sou, estranho o sítio onde estou

Procuro em mim para falar e dizer em verdade
E encontro que me é em mim uma grande saudade
E arde-me o que sinto, nem tenho outra vontade
Pois é em mim grande sofrimento, essa ansiedade

Lembrar a voz que comigo se ria de alegria
De tal se lembra o meu coração, dia após dia
E quem me daria eterna lembrança, quem daria?
Se não esse amor que comigo ainda vivia

Mas se tal é esquecido e não lembro o meu amor
Então lembro a minha fúria, meu oposto furor
E torno-me noutra criatura, em monstro de horror
Sem qualquer sentimento, sem um único prazer nem dor

E de tanto destruir, de tudo só tenho desprezo
Porquanto à minha consciência já nem lhe dou peso
Porque por esse mesmo escudo, continuo preso
E nem quero mudar, quero só continuar ileso


Pois sei que se há que dar do coração, voltar a amar
Sei: de certo hei de sofrer, e tudo isto repetir
Escondo-me para tal não mais ver e nem sequer olhar
Mas sei que só é possível sofrer se se puder sentir

Por isso todo esse amor, uma vez mais o quero
Esse amor que tanto desejo e tanto venero
Mesmo que volte tal sofrer, o qual em mim aglomero
Assim aguardo, e por esse sentimento espero

Porque ainda quero viver, porque viver é sentir
Porque se vivo e não sinto, nem quero ver nem ouvir
Mas se sinto, nem tenho esperança do que há de vir
A aborrecida pulsação já nem nada quer cumprir

Por tal sei que posso dizer: não me quero esquecido
Lutarei para tal lembrar, não me darei por vencido
Esse sofrer e amor que tenho visto e ouvido
Bem de perto sem me favorecer, me tem acontecido

Assim, me agrada e me aflige, essa lembrança
E não consigo creditar-lhe a menor confiança
Mas por bem e por mal, ao meu coração, sempre alcança
E sempre que chega, é-me uma nova esperança

De tal que não sei o que quero, ando sempre confuso
E sempre que volta não o quero mas não o recuso
Do que quero ou do que me convém nem faço distinção
E à vontade de te querer ou não, não sei dar razão.