Ricardo Valez

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Corpo Fantasma

Condenado a saber
Imaginar o futuro que
A mim me calha
Dentro do infinitivo
Da probabilidade
A ocasião e a eventualidade
Que imagino eu
Mas se nem sei
Nem tenho como saber

Vivo em perigo
Constante de cair
Se me falta a força
A vontade de viver
A possibilidade
Se não pára
A queda que se faz
Constante aparição
No medo que me é

Ninguém me disse
Sobre a dor
Que me assola
Agora
Digo eu
Não se podia prever
Apenas esperar
E cegar
Por se temer

Não se pode prever
Espero esperança
Por amarga realidade
Sobrevivo enquanto morro
Um pouco mais
Sobre mim
A fé maior
Faz-me ter
Esperar viver

Tenho todo
O essencial
Que me chega
Perto à perfeição
Ainda que tão longe
Subo e desço
Mas espero melhor
De mim mesmo
Parece
Tenho tudo
E disto tudo
O menos
Isto é
Parece
Porém
Falta-me pois o elo
De futilidade carnal
Mostrando-se maior e mais

Porque se mostra este
Maior que a alma
Que pode haver
Mas carne tudo o é
Alma somos nós
E aquilo que sentimos
Ou somos nós besta
Que de presa
Se faz predador

A carne pois
Que se alimente
De carne
Vive a besta
A alma
Que se alimente
De alma
Vive o Homem
Que morra a besta

Que a fé
Me deixe ser
Que a alma
Possa viver
Que o espírito
Continue superior
Porque o corpo
Não o sendo
É somente só por dor.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Uma Estrela

Ela primeiro caiu no mundo
O seu coração não disse uma palavra
A sua ira cresceu como geada
Pelo que pensava ela ter perdido

Depois ela caiu no mundo dele
Houve então uma só palavra
Ele aproximou-se da sua face
Viu a luz que abraçou
Ela brilhou, ela sorriu
Na eternidade de um momento

Ele viu-a resplandecer
Ouvindo o seu coração bater
Numa corrente de quente sangue
Alma curada de um sonho partido

Ele perdeu o seu mundo
Pelo fogo diante o coração dela
E a fantasia tornou-se real
Nunca eles se haviam sentido tão emocionados
Porque o fogo estava diante os seus corações

Ele olhou para ela
Como a estrela que ela era
Ela amou o pobre rapaz
Como só o amor poderia amar.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Decrépito Mundo – O Brilho De Uma Página Negra IV

Ó mundo, decrépito mundo
O teu fogo arde mais
Mas sempre és o segundo

Nunca deixaste de ser
Pelo fogo
Que não se fez arrefecer

Passas e voltas a passar
Ora não sobre ti somente
Porque tens vida mas sem viver
Pois quão decrépito o que se sente

Não há viagem nem tempo
Que se faça maior gravidade
Porque é a luz que te faz brilhar, ó mundo
O porque vives, sua demente sanidade

Oh mundo! Vives pelo fogo que te arde
E levantas-te senão por cinzas, funerais
Arde agora mundo eu! Arde alma cobarde
Deixa de lhe ser e vive bem e mais!

Se me houvesse ainda honesta alegria
Rir-me-ia então, aberto à tua amarga ironia
Porque choro, não por cobardia
Mas pelo destino que ver nem posso.

sábado, 12 de maio de 2007

Sede Primavera – O Brilho De Uma Página Negra III

Ó Primavera, minha sede Primavera
Brilhas tu o mundo
Mas para sempre quem me dera?

Ora és e logo deixas de ser
Pela época
Que te deixa envelhecer

Morres e renasces
Ora bela e jamais mera
És vida e dás a viver
Da sede que és tu ó primavera

Não há tempo que te apresse
Há somente o mundo e a tua mão
Pois pudera também se pudesse
Ou não me seria a mais bela estação

Oh Primavera! És constante no meu amor
Mas és e logo deixas de ser
És e logo deixas o teu sabor
E ainda assim beijas o mundo ao teu querer

Porque não me és como um todo
Em vez de vento que expira sem inspirar?
Poder-me-ias ser esta estação
E ainda constante também o teu amar?

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Devoto Mar – O Brilho De Uma Página Negra II

Ó mar, devoto mar
Reflectes só a luz da lua
No teu eterno embalar

Nunca vais senão para voltar
Pela dança
Que não tem par

Sobes e desces
Ora cheio ora nu
És senão para lhe ser
Quão devoto de amor és tu

Não há quê que me conforte
Senão a luz que sobre mim
Nem qual sol que me importe
Porque brilha mais a luz de ti

Oh mar! Dançaste só pelo seu amar
Mas esqueces sempre o teu lugar
Porque infinita distância só por mal
Porque sou da Terra mas por ti sou o teu sal

Porque voas tu onde olho sem chegar
Se não me é dada a liberdade?
Mas fosse e deixaria água e sal do meu mar
E ser-te-ia para sempre em eterna gravidade.

sábado, 14 de abril de 2007

Doce Lua – O Brilho De Uma Página Negra I

Ó lua, doce lua
Brilhas no mar
A luz que somente tua

Ora bela ora escura
Pela sombra
Que não tem cura

Cresces e decresces
Ora cheia ora nua
Brilhas e dás a brilhar
Quão doce és tu ó lua

Não há vento que te force
Nem gravidade que vem de mim
Porque nem pelo nosso amor precoce
Te vi querer mudar de ti

Oh lua! Brilhas constante o coração
Mas tens eterna a outra face
Como se a tua vida por escuridão
Como se fonte que te alimentasse

Porque pereces tu por bondade,
Se de bondade pereço eu?
Deixar-lhe-ias tu de lado,
Se qualquer destino fosse teu?