Ricardo Valez

terça-feira, 19 de outubro de 2004

Lágrimas II

Doem-me ainda estes olhos
Escorridos porque lágrimas?
Vencidos porque almas?
Vencidos pelos teus
Rasgando a face por onde descem
E ardendo só por de onde vertem

Minha alma é coração, espírito porque sou
Flama por canção, rito a quem me dou
Mas não sou, apenas fui, nem dou apenas dei

Porque o que fui, fui e deixei de ser
E o que sou, sou livre, isento de regra e lei
Vazia e nua a alma mas voraz por arder.

Porque foi que a despiste e a tomaste?
Porque foi que vieste e a deixaste?
Porque foi afinal que a vestiste do teu ser
Se para fugir, deixa-la para morrer?

Pois… por que alma tomo, eu, a minha?
Qual morre, porque a chamas por voz vizinha,
Ávida por que sabor? o teu, como tu, como o Sol e a Lua
Porque a alma deixa de ser se por ser não for tua.

domingo, 22 de agosto de 2004

Aquando da Promessa

Por mim foi proferido
Por ti foi lembrado
Para ti foi prometido
Como para mim foi relembrado

Sei portanto tanto quanto tenho dito
Sei cada promessa, cada palavra e escrito
Sei por verdade, e para ti a tenho salvo
Tal é a minha palavra, puro branco alvo

Porque não digo só por dizer
Digo só para cumprir
Tal como a alma que pode ver
Porque se pode ver não pode mentir

Ora aqui, por mais ninguém, tenho estado
Negando pois o que tenho esperado
Porque, fala-me se me chamares
E ouve-me se me falares

Porque somos dois: ventos que ascendem pelos céus
Recíprocos, e da nossa sentença somos réus
E porque tarde não é nunca, pois tarde falarei
E porque esperar é para sempre, pois então esperarei.

Porque tudo muda antes que se diga que acabou
Mas permanece a pergunta: o que foi que já mudou?

sexta-feira, 26 de março de 2004

Crepúsculo

Muitas vezes me sentei onde, e à hora a que, me sento agora. Mas nunca antes havia visto a beleza do crepúsculo que brilha em escuridão aquando escondido atrás de ti, porque como poderia eu olhar-te e ver mais para além do quanto se não a ti?!