Quem sou eu, que se não mais um no meio da miséria do mundo
Que para além da fisiologia, que por vezes, agradável aos olhos do homem?
Quem sou eu, se não aquele que se proclama sábio e se cala perante a injustiça
Evitando que o fogo da contenda se alastre e suba até aos confins do além,
E que ri e parece imune à maldade que o rodeia como o sobreiro pela cortiça?
Que sou eu, se não mais um no meio da miséria deste mundo
Que para além do que se pode ver, tem um coração sujo, corrupto, pobre vagabundo?
Quem sou eu, Que me acho melhor mas infiel ao que escrevo, digo e canto,
Que se cala por fora e por dentro a alma range ódio e hipocrisia perante o pranto?
Quem sou eu, que com olhos sujos, olho para o meu próprio irmão?
Quem sou eu, a quem foi dado a vida em socorro à sua morte
E que para ajudar, é-me difícil estender esta simples e medíocre mão?
Hipócrita e egoísta, olho com olhos penosos diante o mendigo, sem sul ou norte
Mas sou, eu, pobre mendigo sem conhecimento do verdadeiro amor ou compaixão
Sou fogo em água, besta em amor, e ainda assim luz na escuridão
Porque mesmo não sendo aquilo que quero – porque não quero aquilo que sou
E sendo infiel ao que te prometi, desejo-me teu em tudo aquilo que tenho ou dou
E fazes-me brilhar na minha escuridão, amor no meu ódio, perdoar no meu furor
Porque sou teu, sem saber quem sou, sem querer saber quilo que sou, sou teu em fervor
Porque aquilo que quero não tem valor, sou teu, dou-te a minha alma, já nada é meu
Para ti, sou cordeiro sou rei, sou vento e sou ar, sou o que quiseres, sou teu, somente teu.
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